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Budismo ou a insustentável leveza do ser

 Uma agenda sem espaços livres, correrias de um lado para o outro, o tempo que não passa com a família e os amigos mais próximos… Tudo contribuiu para elevar os seus níveis de stress que, obviamente, não a deixam ser feliz. O seu dia só tem 24 horas, mas 48 também não seriam suficientes para realizar todas as tarefas a que diariamente se propõe.

 Aderir ao Budismo não vai produzir milagres na sua vida (até porque os budistas não acreditam neles). A sua agenda não vai ter menos coisas para fazer, mas a sua ansiedade pode, de facto, diminuir. Um dos objectivos do Budismo é precisamente alcançar a serenidade, a paz e a harmonia interior. De que forma? É (aparentemente) simples: basta conjugar grandes doses de compaixão com outras tantas de sabedoria. Misture bem e sirva a todos os seres humanos que se cruzarem no seu caminho, sem preconceitos ou descriminações.

 No mês em que o Dalai Lama visita Portugal, viaje connosco ao interior da filosofia budista.

 

Altruísmo e Inteligência

 Um ano de voluntariado em África pode parecer uma loucura ou um simples idealismo romântico para alguns, mas para outros é a única forma que encontram para serem felizes. De acordo com o budismo, todos necessitamos de nos sentir úteis nas tarefas que realizamos: pratique voluntariado, ajude quem necessita e seja feliz com a sua opção.

 Para além disso, cultive a sua sabedoria, o que não significa passar horas a devorar enciclopédias ou a assistir a conferências e documentários intelectuais. Para os budistas, a Sabedoria é mais do que puro conhecimento científico, e sábio é aquele que conhece a realidade intrínseca dos fenómenos, todos eles interligados entre si. Ou seja: tudo acontece por uma razão e todos os nossos actos têm consequências. Perca algum tempo a analisar as suas atitudes e comportamentos, não repita os mesmos erros e aprofunde o que fez de melhor.

 Se não estivermos a fazer algo de válido com as nossas vidas, o tempo não pára e a vida continua a passar ao nosso lado. Se alguma coisa corre mal, não podemos inverter o fluxo do tempo e tentar de novo. No limite, não existem segundas oportunidades. Aproveite a vida: até prova em contrário, esta é a única que temos.

 

Ética, Meditação e Sabedoria

 No Budismo não existe a noção de «pecado», enquanto ofensa causada pela quebra de um mandamento. Existem, no entanto, alguns preceitos básicos que fundamentam a ética budista: não matar, não roubar, não ter uma conduta sexual indevida nem cometer adultério, não mentir, não criar a discórdia, nem proferir palavras duras e insensatas.

 Desta forma, são evitadas as acções com efeitos negativos. É também fundamental ter uma vida saudável, sem vícios. Bebidas alcoólicas, cigarros, drogas, tabaco e carne não devem fazer parte dos hábitos de um potencial praticante. Fruta, cereais, legumes, sumos naturais e muita água devem constar do cardápio dos adeptos. Técnicas de ioga, de relaxamento e de controlo da respiração são exercícios imprescindíveis.

 Com estas técnicas, se não atingir o nirvana, pode pelo menos perder alguns quilos, melhorar a sua disposição e o funcionamento do seu organismo e, de alguma forma, ser mais Happy por isso.

 

O meu karma

 É uma expressão que usamos com frequência, quando nos referimos a uma «pedra no sapato» ou a um aspecto negativo que nos vai acompanhando em certas fases da vida. Karma significa precisamente «acção». As acções podem ser feitas por palavras, através da nossa mente (por pensamento) ou através do próprio corpo. Apenas as acções positivas podem conduzir à felicidade e somente os seres iluminados não produzem mais karmas.

 

Religião, filosofia ou estado de espírito?

 

 Ao contrário da maioria das religiões, o Budismo é não téista, ou seja, não acredita na existência de um Deus criador. O seu carácter aberto e não dogmático, leva cada vez mais pessoas a considerá-lo como uma filosofia, uma forma diferente de encarar a vida e uma ciência do espírito.

 Como religião, o budismo procura «religar» (re-ligare) o ser humano à sua verdadeira natureza.  Enquanto filosofia, enfatiza o «amor à sabedoria» (philo-sophia) no seu sentido mais elevado, e como psicologia, oferece um vasto «conhecimento da mente» (psykhe-logos). Acima de tudo, o budismo é uma via de busca e aperfeiçoamento espiritual. Buda não é um deus nem um profeta, mas um estado que qualquer ser humano pode alcançar.

 

Budismo no Feminino

 

 Tsering Paldron, monja budista portuguesa, afirma que, para a religião budista, ambos os sexos têm os mesmos direitos: «O Buda ensinou que os homens e as mulheres possuem o mesmo potencial e que ambos podem atingir o estado de Buda, não havendo, a esse nível, qualquer diferença. A natureza de Buda não depende do sexo, da raça, da época ou da localização geográfica.» Para Tsering, a plenitude que caracteriza o Budismo é a natureza de todos os seres, sem qualquer discriminação.

 Apesar disso, existem poucos relatos de mulheres que tenham atingido a Iluminação. Tsering Paldron defende que nunca foi o Budismo que discriminou a mulher, mas sim as sociedades onde este foi sendo praticado. Conhecendo a actual situação das mulheres no Ocidente, e com o número de budistas a aumentar anualmente, Tsering acredita que as probabilidades de vermos mulheres atingirem um elevado grau de realização espiritual multiplicam-se: «Nesse aspecto, a situação nunca foi tão favorável. Por conseguinte não vale a pena fazermos desta questão uma nova cruzada feminista. Além do mais nós, budistas, acreditamos que numas vidas somos homens e noutras mulheres. Assim, todos temos múltiplas oportunidades. O próprio Dalai Lama já disse – não sei se para nos apoiar – que talvez a sua próxima reencarnação seja feminina. A ver vamos.», conclui.

 

 

Dalai Lama

 O Budismo surgiu há 2500 anos atrás, na Índia. Buda, o seu fundador, era Sidharta Gautama, príncipe da família dos Shakya. Filho de rei, criado para subir ao trono, começou cedo a questionar-se sobre a vida mundana que levava. Aos 29 anos renunciou ao luxo do seu palácio para procurar respostas aos problemas essenciais da humanidade.

 Após seis anos de estudo e de meditação, atingiu a Iluminação e passou 49 dias em silêncio, sem proferir uma única palavra e sem transmitir quaisquer ensinamentos. Quebrado o silêncio, Buda começou a divulgar os seus princípios. Depois da Índia, o Budismo expandiu-se pelo Sri Lanka, China, Coreia, Japão e Tibete. Actualmente, esta filosofia está disseminada pelo mundo inteiro, tendo há muito extrapolado os limites da Ásia.

 O Dalai Lama é considerado a encarnação do Buda da Compaixão. Com apenas 15 anos de idade, Tenzin Gyatso era aclamado líder espiritual e secular do Tibete. Pouco depois, os exércitos chineses invadiram o país, o que o levou a viajar até Pequim, em 1954, para negociar um acordo de paz com Mao Tse Tung.

 No regresso ao Tibete, as forças ocupantes chinesas esmagaram de forma sangrenta o levantamento popular de 10 de Março de 1959. Noventa mil tibetanos perderam as suas vidas nesta revolta. O Dalai Lama e dezenas de milhares de tibetanos foram forçados a fugir para a Índia, atravessando os Himalaias, sem nunca recorrerem a qualquer tipo de violência.

Pelos esforços que tem desenvolvido no sentido de encontrar uma solução pacífica para esta crise, o líder tibetano foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1989.

 Nos próximos dias 13 a 16 de Setembro estará em Portugal. Os primeiros três dias serão passados no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, onde proferirá ensinamentos sobre o «Desenvolvimento da Paz Interior». No dia 16 dará uma Conferência sobre «O Poder do Bom Coração», no Pavilhão Atlântico.

 

Estrelas budistas

 + Por todo o mundo, o budismo tem hoje mais de 370 milhões de seguidores.

 + Richard Gere, Tina Turner, Sharon Stone, Zidane e Ney Matogrosso são algumas das figuras públicas que já manifestaram publicamente a sua conversão.

 + A indústria cinematográfica também se rendeu a este misticismo, realizando as superproduções «O Pequeno Buda» de Bernardo Bertolucci, com Keanu Reves, e «Sete Anos no Tibete» um dos papéis mais mediáticos de Brad Pitt.

 

Coordenadas:

 Consulte os sites da União Budista Portuguesa e de Tsering Paldron, monja budista portuguesa, e fique a saber mais sobre esta filosofia milenar:

www.uniaobudista.pt

www.tseringpaldron.net

 Ana Catarina Pereira

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