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Kids? Not yet!

 Ficar na cama toda a manhã de sábado, ir ao cinema ou jantar com os amigos no final do dia de trabalho, sair sexta-feira à noite, sábado ou em qualquer um dos restantes dias da semana. Prazeres da vida, liberdades indispensáveis para alguns casais ou uma nova cultura urbana?

 

Prazeres infinitos

 «Filhos, por enquanto não». No século XXI, é provavelmente a frase mais repetida por casais jovens. Para os definir, já existe um conceito: DINKIS, «Double Income No Kids», ou «Salário Duplo, Sem Filhos».

 Quem são eles? Têm entre 25 e 35 anos, vivem em união de facto e não têm filhos: adiam a sua chegada ou, muito simplesmente, recusam-na. São individualistas, amantes dos prazeres da vida e profissionalmente ambiciosos, vivem situações económicas confortáveis, são espontâneos e adoram viajar. Em suma: vivem cada dia como se fosse o último e recusam-se a trocar esta liberdade por horários de babysitters, infantários e noites mal dormidas, interrompidas por choros de bebés.

Em Portugal, a empresa britânica McCann Erickson entrevistou mais de mil inquiridos e as principais conclusões registaram-se ao nível dos compromissos: mais de 40 por cento dos DINKIS vive em casas arrendadas ou pertencentes à família. Comprar casa é um investimento a longo prazo e optar por um contrato de arrendamento é uma situação temporária, que se adequa mais ao espírito com que encaram a vida, e a própria relação. «Viveram felizes para sempre» não faz parte dos objectivos destes casais que, acima de tudo, são pragmáticos e realistas. Se acontecer, tanto melhor. Caso contrário, não há lugar para dramas ou tragédias gregas.

 No entanto, a partir dos 31 anos a maioria decide comprar casa. Em 2012, prevê-se que 1/3 dos DINKIS mantenham o estilo de vida actual, mas a grande maioria (57 por cento) já se imagina com filhos. Serão DINKIS a prazo? É provável. Para os autores do estudo, ser DINKI é uma etapa da vida, uma fase transitória entre a juventude e a idade adulta, que pode (ou não) converter-se numa opção permanente: «Esta geração procura uma evolução da família, com papéis mais de acordo com os valores e desejos da sociedade actual, e não criar uma revolução ou um novo modelo.» Assim, o conceito de família não está em crise, apenas os valores tradicionais associados a ele, como a autoridade, o dever e a rigidez. Nas famílias modernas preserva-se a democracia e a informalidade: o dever e as regras também existem, mas de uma forma menos rígida.

 Mas desengane-se quem considerar que esta filosofia de vida é um produto dos nossos dias. Já no século IV a.C., o filósofo ateniense Epicuro propunha uma vida de eterno prazer para alcançar a felicidade. A Epicuro é atribuída a frase «É tolo pedir aos deuses o que se pode conseguir sozinho», e os DINKIS estão totalmente de acordo, já que a maioria não demonstra qualquer religiosidade. No entanto, apesar de auto-confiantes e pouco espirituais, não vivem distantes dos problemas do mundo actual. Entre as grandes preocupações sociais dos DINKIS encontram-se a poluição, a fome, a violência e o terrorismo. Ecologistas por natureza, não prestam tanta atenção a temas que afectam directamente casais com filhos, como o tráfico de órgãos, a pedofilia ou o rapto de menores.

Socialmente, gostam de conhecer pessoas, ambientes e experiências novas. Adoram estar com os amigos, viajar, comprar música, livros e ir ao cinema. As suas casas são informais, dinâmicas e funcionais, voltadas para o uso diário. O mobiliário é reduzido, com design moderno e minimalista, espaços abertos, iluminados e paredes coloridas. O conforto reconhece-se em cada recanto e a tecnologia é presença assídua: televisores com ecrã plasma, leitores de DVD, sistemas dolby surround, telemóveis e computadores portáteis de última geração são alguns dos gadgets a que não resistem. Com um ritmo de vida intenso, os DINKIS são instintivos e espontâneos, reagindo ao apelo das marcas e ao consumismo: «aqui e agora» são o lugar e o tempo que realmente importam.

 Num casal DINKI, a mulher deixa de ter um papel meramente «reprodutivo», o homem evolui no seu cuidado pessoal e colabora em todas as tarefas domésticas. Eternos amantes, gostam de se sentir sensuais e mantêm vidas sexuais muito activas, pelo que cultivam a imagem e são adeptos da filosofia «mente sã em corpo são». O vínculo emocional entre ambos é grande: para os DINKIS adiar a chegada dos filhos melhora a consolidação do casal, e ter apenas um permite continuar a satisfazer as necessidades materiais.

Egocentrismo ou despreocupação? Hedonismo ou fúria de viver? Decida você mesma, por hoje, ou para toda a vida.

 

DINKIS: uma nova tribo urbana

 + Os números são significativos: 980.000 casais (quase dois milhões de portugueses) correspondem ao perfil.

 + Em 2010, um em cada quatro lares vai ser constituído por DINKIS.

 + Internacionalmente, Enrique Iglesias e Anna Kournikova, Eva Longoria e Tony Parker são exemplos de casais DINKIS.

 + O conceito é britânico, bem como a empresa que realizou o estudo em Portugal: a McCann Erickson. Os 1107 inquiridos responderam via e-mail.

 

Ana Catarina Pereira

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