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Sereno Alentejo

 

Num refúgio de charme, a preguiça faz a ponte entre a tradição e a modernidade

 

 A Estalagem de São Domingos, antigo palacete daquela que foi a maior mina de pirite e cobre da Península Ibérica, é o local perfeito para quem precisa de umas férias tranquilas. A paisagem convida à serenidade e à preguiça.

 A  harmonia entre o passado e o presente é reconhecível em todos os pormenores decorativos. À chegada, observo com curiosidade esta dualidade, enquanto percorro um corredor de paredes brancas e altas e me dirijo ao quarto, na parte nova da estalagem. Com um mobiliário de design rectilíneo, mas acolhedor, o bordeaux dos cortinados e o castanho-escuro dos móveis imperam. Sou bem recebida: tenho vista para a piscina de água salgada e um delicioso silêncio que me fará recuperar energias. Desligo os telemóveis e o nível de stress é reduzido ao mínimo, deixando mesmo de existir momentos depois. Nada me perturba.

 Para quem vive na cidade e poucas vezes têm a oportunidade de olhar para um céu limpo, a oportunidade de ver estrelas e outros planetas é potenciada pelo Observatório de Astronomia da própria estalagem. Nas noites de Verão pode aproveitar a presença de astrónomos internacionais e tornar a sua estadia ainda mais romântica.

Longe do mundo

  Na manhã seguinte, os cortinados abrem-se e o olhar perde-se por entre os eucaliptos, pinheiros e laranjeiras da paisagem. A banda sonora não podia ser mais chill out, com o chilrear dos pássaros e uma fonte de água no jardim. As espreguiçadeiras na varanda convidam-me à leitura, ou à simples observação do cenário. Vence a segunda opção.

Depois do pequeno-almoço passeio pelos salões do palacete, que conservam os tectos originais, do período pós-vitoriano. A Biblioteca Rainha Dona Amélia e a sala de jantar com bustos do rei D. Carlos e do Barão do Pomarão, testemunham a antiga função da casa.

 Ao almoço, a ementa não podia ser mais alentejanamente tentadora. Como desliguei do mundo, esqueço a dieta e cometo o pecado da gula, sem margem para arrependimentos. Na vida, todos os prazeres sabem a pecado: e é por isso mesmo que sabem tão bem. O gaspacho e a sopa de tomate, as deliciosas migas alentejanas, o cação de coentrada ou as costeletas de borrego estão entre as sugestões do chefe. De sobremesa não resisto a uma sericaia com ameixa de Elvas, magnífica.

Viagem no tempo

No forçado regresso, tempo ainda para conhecer as antigas minas de São Domingos, fechadas desde 1965. A luz e as cores tornam este cenário único, onde se sente o peso da História.

Já em Mértola, a viagem no tempo parece continuar e percebo que, só à primeira vista podemos confundi-la com mais uma povoação alentejana, alva e pacata. Depois dos primeiros momentos, as particularidades começam a surgir diante dos nossos olhos: a zona muralhada, de lajes gastas, revela parte da História deste importante entreposto comercial de outrora.

 Fenícios, cartagineses, romanos e árabes andaram por aqui, vendendo, comprando e trazendo notícias e influências de outros mundos. Os vestígios foram conservados, na arquitectura e nas pessoas. Aos historiadores lego a função de estudar esta vila cosmopolita que, de dois em dois anos, recebe o Festival Islâmico. Para mim reservo o prazer de saborear esta serenidade alentejana, num tempo que corre devagar.

Estalagem de São Domingos

Minas de São Domingos

Mértola

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