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António Costa Valente

Director do Cineclube de Avanca

 

 Portugal é um país de contrastes, alguns deles agradavelmente surpreendentes. Dita a tradição que as terras mais pequenas sejam animadas em Agosto, com a chegada dos emigrantes, enquanto os restantes meses do ano são passados na pacatez de um dia que se segue ao outro, sem que mais nada aconteça. Mas essa, felizmente, não é uma realidade comum a todas as pequenas localidades. No Norte, próximo de Aveiro, uma vila de apenas 6500 habitantes distingue-se por uma imensa paixão pela sétima arte e por uma vontade que a cultura não se cinja aos grandes centros.

 A história é-nos contada por António Costa Valente - professor universitário de 50 anos de idade, que aceita recuar no tempo e viajar até à época em que, com apenas 17 anos, era um adolescente cheio de sonhos na cabeça. Não estava sozinho. Do seu grupo de amigos faziam parte outros jovens igualmente cansados de viver numa terra simpática, mas “onde nada se passava”: “Éramos uma geração que tinha preocupações com a cultura. Uns dedicavam-se mais à literatura, outros à pintura, e o cinema acabou por surgir ali no meio, como uma espécie de elemento aglutinador, que reunia a imagem e a escrita.”

Encontrado um interesse comum, surgiu um projecto: formar um Cineclube. Há 33 anos seria a própria Igreja local a ceder o espaço e a máquina de projecção. A Junta de Freguesia, pressionada pelo espírito voluntarioso destes jovens, atribuiu-lhes ainda um subsídio simbólico que, afirma António Costa Valente, hoje em dia corresponderia a um euro. Reunida uma direcção, foi unanimemente decidido privilegiar o cinema amador (para dar oportunidade aos novos realizadores) e o de animação, por ser menos dispendioso.

 Actualmente, o Cineclube de Avanca já produziu mais de 50 filmes que, por sua vez, já foram galardoados com mais de 100 prémios nos vários festivais mundiais de cinema onde marcaram presença. Todos os anos promovem workshops, sessões de cinema nas escolas da região e um festival de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia. Ao todo, contam com mais de 300 associados que seguem atentamente a programação, sobretudo no que diz respeito aos filmes portugueses, europeus e independentes.

 Até aqui, as projecções têm-se dividido entre o Centro Paroquial de Avanca e o Cine-Teatro de Estarreja. Mas com toda esta actividade, foi natural que se começasse a pensar em exibir filmes numa sala própria para o efeito. Os problemas, encarados como desafios, começaram então a surgir. Em 1992, a Câmara Municipal de Estarreja atribuiu-lhes um lote de terreno no centro da freguesia e, dois anos mais tarde, o Instituto Português da Juventude (IPJ) cedeu o primeiro subsídio que seria, no entanto, insuficiente. Por falta de verbas, as obras tiveram que parar. Em tempos de crise, e sem dinheiro para terminar o projecto a que se propunha, António Costa Valente, em conjunto com todos os membros da direcção do Cineclube, decidiu reunir esforços e apelar ao espírito comunitário. Em Maio do ano passado, lançaram a “Campanha do Tijolo”, convidando a população a contribuir para a construção do novo edifício. O objectivo era reunir 15 mil tijolos, 500 sacos de cimento e 130 metros cúbicos de areia para concluir a obra iniciada há quase vinte anos, pelo que cada cidadão podia comprar e oferecer-lhes materiais de construção. Seis meses depois, em Novembro, já tinham recebido os 15 mil tijolos necessários, esperando agora a oferta dos restantes materiais.

 Com cerca de mil metros quadrados, divididos por quatro pisos, a nova sede do Cineclube de Avanca irá albergar diferentes espaços destinados à formação e produção audiovisual, construídos à volta de uma sala estúdio central. No último piso, terão uma Mediateca para reunir todo o espólio da associação. Para António Costa Valente, é impossível determinar uma data de conclusão das obras. Apesar disso, considera que o esforço da população terá um final feliz. Aguardamos assim pelas cenas dos próximos capítulos.

Ana Catarina Pereira

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