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Kouamana Bousson

Da Costa do Marfim para a Covilhã

 

 O nome é difícil de pronunciar e a origem é quase impossível de definir. Kouamana Bousson é marfinense e foi educado segundo os princípios de uma avó etíope. Aos cinco anos de idade foi morar para França, embora viva em Portugal há quinze. Quando lhe perguntamos com qual dos países mais se identifica não nos sabe responder: “A cultura que me foi transmitida desde criança foi a etíope. A minha mulher também nasceu na Etiópia e são esses os valores que nós transmitimos aos nossos filhos. Por outro lado, eu nasci na Costa do Marfim; muitos dos meus familiares permanecem lá e eu faço questão de os visitar com frequência.” Como afirma à Notícias Sábado, estas ambiguidades mantiveram-se na passagem da infância à idade adulta: “Apesar de ter estudado e vivido muitos anos em França, sinto-me perfeitamente integrado na Covilhã. Os meus filhos são portugueses e muitos dos meus amigos também, por isso acho que sou uma mistura de todos estes países.”

 Kouamana Bousson, 50 anos de idade e cidadão do mundo, é actualmente professor de Engenharia Aeronáutica na Universidade da Beira Interior. O convite para vir leccionar nesta cidade à “beira-serra” plantada foi-lhe dirigido pelo primeiro reitor da instituição, quando o curso dava os primeiros passos e necessitava de quadros superiores. Para Kouamana Bousson (que tinha então concluído o doutoramento na Universidade de Toulouse e trabalhava como investigador) o desafio configurou-se aliciante, não só pela oportunidade de conhecer um novo país, mas também pelo contacto directo com os alunos: “Eu penso que é importante, para um investigador, dar aulas. Caso contrário, tudo aquilo que pesquisa fica na gaveta.” Segundo afirma, este continua a ser um dos aspectos mais positivos da sua vivência na Covilhã: “Tenho uma grande proximidade com os meus alunos, e isso é um processo que se tem vindo a aprofundar. Acho que também aprendo muito com eles.”

 Passados quinze anos, Kouamana Bousson recorda o seu primeiro contacto com esta cidade: “Vim primeiro falar com outros professores e alunos, para tentar perceber se me iria adaptar ao local e a um novo sistema de ensino. Lembro-me de ter ficado impressionado com o ambiente calmo e a qualidade de vida da região. Nessa altura, Toulouse já era uma cidade com quase 500 mil habitantes e com muita confusão.” O facto de o departamento ser recente deu-lhe também uma perspectiva interessante de progressão na carreira, embora, para além dos motivos profissionais, tenha ainda considerado que este seria o local indicado para criar uma família.

 Seis meses depois, no início do segundo semestre, viria de malas e bagagens, totalmente disposto a ficar. A mulher e o filho recém-nascido chegariam alguns meses mais tarde, sem grandes dificuldades de adaptação. O obstáculo de uma língua com a qual nunca tinham tido contacto foi ultrapassado com um curso de português para estrangeiros, leccionado dentro da própria universidade: “Para além de ter aprendido a falar português, fiquei a conhecer outros professores estrangeiros que também davam aulas na universidade, com os quais ainda hoje mantenho contacto e que se tornaram meus amigos.”

 Actualmente, Kouamana Bousson fala um português fluente, sem aparentes dificuldades. Para tal, valeu-lhe o pragmatismo de engenheiro que está habituado a aprender e a ensinar através de fórmulas: “O português e o francês são duas línguas latinas, o que faz com que o vocabulário não seja muito diferente. Mas, no início, a estrutura gramatical foi uma dor de cabeça. O truque que eu usei foi estudar gramática como se estudasse matemática. Aprendi as regras e fui fazendo exercícios cada vez mais complicados.” Os filhos já criados em Portugal foram dando uma ajuda preciosa. Depois, a integração num ambiente académico intenso encarregar-se-ia de lhe juntar mais um país e uma língua à sua cidadania multicultural.

 

 

Covilhã - Quilómetros:

Distância Lisboa – Covilhã: 308 km

Distância Porto – Covilhã: 268 km

 

Coordenadas GPS: N 40º 16' 45,76'', W 7º 29' 43,52''  

 

 Com um anfiteatro montanhoso a toda a volta, a Covilhã situa-se a 700 metros de altitude, numa das encostas do ponto mais alto de Portugal Continental: a Serra da Estrela. Antiga “Manchester Portuguesa”, cognome adquirido pela sua histórica dedicação à indústria têxtil, a cidade tem hoje 55 mil habitantes, espalhados por 31 freguesias. Com uma vivacidade muito própria, espelhada nas tradicionais feiras e mercados, tem registado uma crescente popularidade entre os turistas que procuram as estâncias e pontos mais altos da Serra da Estrela, nomeadamente as Penhas da Saúde e a Torre. A Universidade da Beira Interior foi também responsável pelo “renascimento” da cidade, que agora se dedica mais aos serviços do que à indústria.

 

 

Gastronomia regional


 Seja qual for a época do ano, a Covilhã pode também ser o ponto de partida para um roteiro gastronómico inesquecível. Destaque para o célebre queijo da Serra, de sabor inconfundível, que pode provar-se em qualquer feira de queijos da região ou nas várias lojas dedicadas aos produtos regionais. Internacionalmente (re)conhecido, o queijo da Serra é produzido unicamente com leite de ovelha de raça Bordaleira e coalhado por uma flor característica da região.

 Mas não esqueçamos ainda o delicioso pão de centeio e os enchidos caseiros, além dos suculentos pratos, como a tradicional sopa de feijão encarnado, o cabrito assado, o ensopado de borrego, a truta grelhada, a panela no forno ou o arroz de carqueija, entre muitas outras especialidades. De sobremesa, o visitante pode sempre deliciar-se com um requeijão com doce de abóbora, para completar os sabores da gastronomia regional. Sublinhe-se que, aos pés desta cidade, desenvolve-se um rico e fértil vale de boas aptidões frutícolas, com cereja, pêssego, maçã e pêra, e vinícolas, designado “Cova da Beira”. Para provar todo este menu, destacamos alguns restaurantes como a marisqueira Jardim do Lago, Montiel (junto à praça do Município), Piornos (no Hotel Turismo da Covilhã), Quinta Nova (Estrada Nacional) e Casa de Campo (Quinta do Covelo).

Ana Catarina Pereira

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