Universal Concreto
Ana Catarina Pereira
Na Curva do Rio, um lugar idílico
onde nos encontramos com a natureza e os dias passam devagar
Os caminhos não asfaltados e a má sinalização vão-me fazendo prever um caso de paz, sossego e isolamento em estado puro. À chegada não existe margem para dúvidas. Na Curva do Rio é um local poético, não apenas no nome, e especial, não tanto pela arquitectura.
As paredes brancas com rebordos azuis são iguais às de muitos montes alentejanos e algarvios, mas esta não é apenas mais uma casa rural. As suas especificidades vão-nos surpreendendo devagar, e naturalmente.
Inserido na paisagem protegida da Rede Natura 2000, este turismo rural é perfeito para quem quer fugir dos destinos mais comerciais e das praias inundadas de gente. Aqui não existem fantasias turísticas ou hotéis megalómanos com dezenas de andares. Os únicos ruídos que ouvimos são os das cigarras e das mais de 50 espécies de aves que sobrevoam a região. São elas que chamam alguns turistas do Norte da Europa que, nos meses de Setembro e Outubro, vêem à Curva do Rio observar cegonhas, garças e maçaricos-reais, entre outras espécies.
Pelos terraços da casa passeiam também ratos do campo, lagartos, camaleões, coelhos e cobras, que convivem amigavelmente com o dono e hóspedes da casa. No rio podemos nadar e pescar, com algum cuidado, para não ficarmos enterrados até aos joelhos.
Pelo sim, pelo não, opto pela piscina. Ao rio irei mais tarde, para me deixar fascinar pelo pôr-do-sol. Invade-me um espírito zen e deixo o olhar fundir-se com a luz do entardecer. Karen Blixen deveria ter passado por aqui: o cenário é magnífico e podia perfeitamente servir de inspiração para um romance como África Minha.
Ao jantar tenho tempo para conversar com Lourenço Ribeiro, o dono da casa. Formado em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa e com um vasto curriculum de empresas multinacionais, percebo porque decidiu abandonar, pelo menos temporariamente, a carreira profissional. Esta antiga casa de pastoreio pertence à sua família há mais de 40 anos, sendo que a parte antiga já tem mais de 100. Hoje a curva do rio é o seu porto de abrigo, que explora com prazer e respeito pelo meio envolvente.
Elsa, a cozinheira brasileira da casa, surpreende-nos com uma entrada de camarão com pêra abacate e papaia, a que se segue um lombo de porco com ameixa. De sobremesa delicio-me com um Cheesecake de limão e percebo que todos os cozinhados costumam ter este colorido tropical, trazido de terras de Vera Cruz.
À noite aproveito alguns espaços de utilização comum. No bar/ biblioteca folheio os livros de banda desenhada e romances em várias línguas que enchem as estantes. Na sala de jantar descanso nos sofás de grandes almofadões. O romantismo da lareira faz-me querer voltar aqui, no Inverno. Mas o Verão também é adequado às surpresas românticas e, nesse ponto, Elsa e Lourenço gostam de dar uma ajuda, preparando um jantar num dos espaços mais reservados da casa, à luz de velas e com vista para o rio. Atreva-se e surpreenda quem desejar.
De manhã, ao acordar, tenho dificuldade em acreditar que estou no Algarve, em pleno Verão. Ao pequeno-almoço converso com dois hóspedes espanhóis. Paloma e Iñaki, a publicitária e o advogado madrilenos, confessam preferir um destino de férias assim: longe da cidade e da confusão turística, comprendes? Claro que sim.
Despeço-me dos alpendres e terraços da casa, com redes e almofadões que me convidaram à preguiça. Foi uma experiência única, e diferente.
No regresso fica a certeza: precisava de mais uns dias assim, ali mesmo, na curva do rio.
Casa do Rio
Caixa Postal Z259
8400 – 066 Estombar
Lagoa
282 482 125
Ana catarina Pereira