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Pecados Conventuais

 

Um Convento onde os prazeres sabem a pecado e um refúgio escondido, que lhe propomos descobrir.

 

 Uma hora após a saída de Lisboa chego a Arraiolos, ao antigo convento dos Lóios, que hoje ostenta o título de Pousada Histórica de Design. A designação é adequada a este convento do século XVI, recuperado e restaurado por arquitectos que procuraram criar uma harmonia entre a tradição e a modernidade. A estrutura austera e labiríntica do convento foi mantida, cedendo às modernas exigências de conforto e bem-estar.

 O projecto foi arriscado: são necessárias grandes doses de bom gosto para conjugar os dois estilos, ser fiel ao original e inserir peças de design contemporâneo. Para completar esta dualidade, a música gregoriana que se ouve ao fundo é por vezes intercalada com melodias chill out.

Primeiro estranha-se e depois entranha-se… O que fazem aguarelas e serigrafias de artistas contemporâneos como Júlio Pomar, Gerardo Burmester e David de Almeida, ao lado de arcas e cadeiras do século XIX, ou de esculturas de santos do século XV? A verdade é que combinam - estética e harmoniosamente.

 À chegada instalo-me no quarto, amplo, com paredes altas e imaculadas. A decoração respeita as linhas mais modernas do convento, com um design arrojado mas acolhedor. A parte nova do convento, onde se situam a maioria dos quartos, tem vista para o Castelo de Arraiolos e para a vila. À noite, iluminada, parece ter archotes no lugar de candeeiros eléctricos, relembrando uma vila mourisca.

 Ainda antes do anoitecer aproveito para caminhar pela herdade à volta do Convento. Os jardins generosos e densos refrescam o ambiente, mesmo em pleno Verão. As árvores perdem-se de vista e sinto no ar o perfume a ervas aromáticas que me fazem prever deliciosos temperos à refeição. Ao longe avisto mais montes, mais árvores e mais azul do céu que, ao entardecer, é substituído por um rosa velho que delicia o olhar. Se a perfeição existe, só a natureza em estado puro pode alcançá-la.

 De volta ao Convento aproveito para fazer uma primeira visita à Igreja, com azulejos setecentistas, azuis e brancos, da autoria do espanhol Gabriel del Barco. Sozinha, tento recuperar a fé há muito perdida. O silêncio deixa-me reflectir um pouco, mas relembro que todos os prazeres no Alentejo sabem a pecado, ateísmo e mundaneidade: como em qualquer parte do mundo. A gula e a preguiça vencem-me e a reconversão terá que esperar, até porque no Convento, o pecado mora mesmo ao lado: no restaurante da pousada propriamente dito.

 Da ementa fazem parte entradas tão tentadoras como Creme de favas com enchidos de Estremoz, Desfiada de Pombo e Pucarinhas assadas com queijo de Arraiolos. Seguindo a sugestão do chefe, opto pela Lagueirada de Polvo. Se preferir carne, uma das especialidades da casa é Carré de Borrego em Crosta de Ameixa D’Elvas. De sobremesa, os doces conventuais certificam-nos que até os mais santos gostavam de cair em tentação, portanto delicie-se com uma Sericaia com Ameixa de Elvas ou prove o buffet de queijos portugueses.

 Na manhã seguinte, depois do pequeno-almoço, aproveito a piscina e passeio pelos cantos e recantos do convento. Tapetes de Arraiolos descem pelas paredes, misturados com outros utensílios de ferro forjado, vestígios das anteriores utilizações do convento. No claustro, com arcos e colunas toscanas de granito e uma fonte ao centro, cometo uma heresia e penso no romantismo do local, outrora condenado ao celibato. No regresso, despeço-me do Alentejo como das outras vezes, com um “até breve”.

 

 

Convento dos Lóios

7041 – 909 Arraiolos

21 844 20 01

www.pousadas.pt

recepcao.assuncao@pousadas.pt

Ana Catarina Pereira

 

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