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De que têm medo as mulheres do século XXI?

 Apesar de lutarem pelas suas carreiras, de correrem atrás do sucesso profissional e de investirem cada vez mais em si próprias, as mulheres não deixaram de sonhar. Nem de ter medo.

 

 Perguntámos a dez mulheres, entre os 25 e os 65 anos, “qual o seu maior medo?” As respostas foram equilibradas e diferentes entre si. Muitos destes receios estão relacionados com a crise económica mundial e a suposta falta de valores das novas gerações. Alguns têm a ver com a morte, a rapidez do tempo que passa e a descoberta de doenças incuráveis. Mas outros reflectem o desejo de encontrar um príncipe encantado. Cem anos passados sobre um século que foi apelidado como sendo das mulheres, parece indiscutível que estas venceram inúmeras barreiras. Entraram nas universidades, na vida política e nos quadros superiores das empresas. Deixaram de ser as eternas enfermeiras dos romances de Hemingway e passaram a ser médicas num mundo em constante mudança. Corajosas, decididas e em permanente esforço de conciliação entre a vida pessoal e a profissional, as mulheres do século XXI transparecem uma imagem de força (quase) indestrutível. Mas continuam a ter alguns receios.

 

Medo de não cumprir o papel de mãe

 Num princípio de século onde a instabilidade no emprego e a crise económica estão na ordem do dia, Célia André pode considerar que tem tido um percurso profissional interessante, que a realiza por completo. Mas, para esta empresária de 41 anos, a maior fonte de felicidade (e de consequente preocupação) provém da família numerosa que foi construindo nos últimos anos. Assumida “mãe-galinha” de três crianças, de dois, cinco e sete anos, não tem dúvidas em responder: “tenho medo de falhar na educação das minhas filhas.”

 Em contraste com a sociedade contemporânea, Célia esforça-se por, diariamente, lhes transmitir a importância da família, do amor, da solidariedade e da honestidade. Colocando a fasquia alta, a empresária é a primeira a reconhecer: “Qualquer atitude por parte das minhas filhas que violasse os valores que lhes tento transmitir iria magoar-me muito. Para mim, a tarefa de educar os filhos é das mais importantes da nossa vida.” Passando da teoria à prática, Célia André participa frequentemente em acções de voluntariado e de solidariedade, procurando ajudar quem mais precisa e, simultaneamente, contagiar a família com o espírito humanitário que a move: “Para mim, é importante que elas se relacionem com pessoas que vivem e pensam de um modo diferente do nosso. Quero que elas saibam respeitar a diferença, sem preconceitos em relação a outros seres humanos.” Crescer com estes valores irá transformá-las, assim espera, em mulheres preparadas para enfrentar o mundo.

Recorrendo a exemplos concretos, Célia André afirma que seria frustrante para si constatar que uma das filhas se tinha tornado no tipo de pessoa que não tem humildade suficiente para assumir os próprios erros e pedir desculpa. Para evitar este tipo de situações, e para estar mais presente na vida delas, a empresária assumiu, em conjunto com o marido, que deveriam levar a cabo algumas mudanças nas suas vidas profissionais: “Neste momento, estamos a viver em Vilamoura, onde se consegue ter qualidade de vida, sem o trânsito infernal das grandes cidades, e onde a escola está a cinco minutos de casa. Para além disso, estou também a dedicar-me a um projecto online, que me permite trabalhar em qualquer parte do globo e me possibilita uma maior flexibilidade de horários. Isto facilitou imenso o acompanhamento das crianças, tanto durante a época das aulas como em tempo de férias.”

 

A preocupação com as gerações futuras

 No caso de Adélia Carvalho Mineiro, professora aposentada, mãe de dois filhos e avó de três netas, o medo que sente reflecte-se nas mais novas gerações da família. Aos 64 anos, com uma situação financeira e saúde estáveis, preferia viver uma reforma tranquila, viajar e ir descobrindo o mundo que ainda lhe falta conhecer. Em vez disso, assiste a horas a fio de telejornais e entristece-se com a invariabilidade das notícias: “Portugal enfrenta a maior crise económica e social da era democrática. Embora o País tenha já sofrido intervenções do Fundo Monetário Internacional, em 1978 e 1985, hoje em dia há famílias inteiras sem emprego. Há crianças subalimentadas e outras que já foram retiradas das creches e infantários, o que agrava a situação da pobreza infantil. Para além disso, a pobreza envergonhada já atinge grande número de pessoas da classe média”, alerta a entrevistada.

 Atenta à realidade que a cerca, Adélia Mineiro não consegue deixar de se sentir apreensiva quanto ao futuro dos filhos, de 30 e 38 anos, bem como das netas recém-nascidas: “Actualmente, para além dos baixos salários, muitos empregos são tão precários que não dão quaisquer direitos de protecção social, nem sequer o de receber subsídio de desemprego.” Reconhecendo que a maioria dos jovens se esforça por adquirir a melhor formação possível dentro das suas áreas, Adélia Mineiro lamenta que lhes seja vedada a possibilidade de construir uma carreira profissional estável, o que tem contribuído para a baixa taxa de natalidade do país: “O meu grande medo é que o prolongamento desta crise económica possa redundar numa geração perdida”, conclui.

 

Os cêntimos que não chegam ao fim do mês

 Paralelamente, há também inúmeros jovens e adultos que temem já fazer parte desta “geração perdida” que Adélia Mineiro descreveu. Aos 37 anos, Otília Morais é uma das muitas mulheres que lutam diariamente contra os efeitos de uma crise económica que se afirma cada vez mais demolidora. Assistente de direcção e mãe de dois filhos, vive nos arredores de Lisboa, a braços com um somatório de contas mensais que parece não ter fim. Há cerca de um ano, a notícia do desemprego do marido viria agravar e entristecer o seu dia-a-dia.

 Por entre a alimentação, as despesas escolares e a roupa dos filhos, Otília receia chegar ao ponto de, um dia, não conseguir sequer satisfazer as necessidades básicas dos seus filhos. A razão pela qual este pesadelo insiste em fazer parte dos seus dias é (aparentemente) simples: “Já era complicado gerir a casa e as despesas de quatro pessoas com um rendimento que rondava os 1500 euros mensais. Com o desemprego do meu marido, os cortes lá em casa foram brutais, mesmo em coisas básicas.” Para tentar contornar o problema, Otília vai informando o marido de todas as ofertas de emprego que encontra e desdobra-se numa enorme ginástica financeira. O objectivo é sempre o de fazer chegar os últimos cêntimos do ordenado ao fim do mês e, para o cumprir, a organização parece ser o seu grande trunfo: “No início de cada mês listo todas as despesas fundamentais para as quais não pode mesmo faltar dinheiro: renda da casa, escola, água, luz, gás e transportes públicos. Depois de separar o dinheiro para isto, vejo o que sobra e tento dividir pela alimentação. Estou atenta às promoções nos supermercados e vou comprando os alimentos aos poucos, conforme vamos precisando. Depois, tento colocar um bocadinho de parte para alguma eventualidade, como eles ficarem doentes e precisarem de medicamentos. Mas raramente consigo…”

 Para Otília Morais, o sonho de possibilitar aos filhos uma vida melhor tem-se vindo a esbater nos últimos anos: “Eu já desisti de lhes dar aquilo que eles realmente merecem, porque isso iria muito para além do básico. Era bom que eles pudessem ter actividades lúdicas, como ginástica ou natação, ir ao cinema de vez em quando ou às festas de aniversário dos amigos… Nesta fase isso já não acontece.  Por mais que eu queira, isso seriam verdadeiros luxos.” Nos últimos meses, outra batalha que teve de enfrentar foi precisamente a comunicação destas regras aos filhos: “Eles percebem que as coisas mudaram, que há coisas que já não podem ter e sítios onde já não podem ir. Sabem que têm que ter muito mais atenção lá em casa - apagar sempre a luz, fechar a torneira, desligar os botões… Sabem que o nosso dinheiro é muito menos porque o pai não trabalha, mas muitas vezes revoltam-se e fazem perguntas difíceis de responder.” Ainda assim, mesmo tentando aligeirar o discurso e desdramatizar a situação, o filho mais novo já a surpreendeu com um gesto inesperado: “Um dia, depois de mais uma conversa difícil, ele foi ao quarto a chorar, dizendo que agora éramos muito pobrezinhos, e regressou com o porquinho mealheiro dele para tentar ajudar.”

 

Uma carreira profissional frustrante

 Dentro desta suposta “geração perdida” encontram-se outros casos de portugueses que investiram numa carreira profissional, que sabem perfeitamente o que gostariam de fazer, mas que não encontram oportunidades. Cristina Pereira teme vir a tornar-se um deles. Apaixonada pelo curso de Engenharia de Gestão Industrial que escolheu, tem vindo a mostrar-se uma mulher decidida num universo maioritariamente masculino: “É uma área com a qual me identifico e que me atrai muito. No início ainda ponderei seguir gestão de empresas, mas nunca fui ‘pássaro de gaiola’ e passar o dia em frente a uma secretária não era o meu objectivo.” Feliz com a escolha realizada, ainda acrescenta com tom entusiástico: “Atrai-me o chão de fábrica, o contacto físico com o que é produzido e a forma como os fluxos produtivos são definidos e optimizados. Na engenharia industrial, existe uma interacção entre factores tecnológicos, humanos, financeiros e organizacionais, e isso agrada-me bastante.”

 Aos 34 anos, Cristina Pereira já somou várias experiências de trabalho em fábricas do ramo, até se ter tornado, em 2010, um dos muitos casos de despedimento da empresa Delphi, na Guarda. Sete meses depois continua a desejar que surjam novas oportunidades, embora o desânimo, por vezes, fale mais alto: “Sempre trabalhei na minha área. Gosto muito daquilo que faço, e foi por isso que continuei a estudar e que terminei o mestrado.” Ainda assim, tal como a milhares de jovens que investiram em si próprios, o bom curriculum profissional e académico não lhe tem garantido o futuro com que sempre sonhou: “Tenho muito medo de não conseguir voltar a trabalhar em algo que me satisfaça completamente. Acho que ninguém gosta de realizar tarefas diárias para as quais não se sinta motivado.”

 Apesar de se esforçar por manter o optimismo, Cristina Pereira não consegue fechar os olhos à realidade que a cerca: “O desemprego não pára de aumentar, e o número de desempregados com formação superior é cada vez maior... o que agrava ainda mais os meus receios.” Pelas frequentes conversas com amigos e colegas da sua geração vai percebendo que o sentimento é comum a todos: “O ambiente de incerteza é geral. Já não existe o ‘emprego para a vida’, onde tudo poderia ser planeado a longo prazo. Hoje em dia é quase impossível fazer planos para o ano seguinte. Para a maioria das pessoas que conheço a realização profissional deixou de ser um objectivo primordial”, conclui Cristina Pereira.

 

E se não existir mais nada?

 Já para Inês Lopes, o maior medo prende-se com uma inevitabilidade da vida: a própria morte. Para esta assistente de comunicação, de 29 anos, a infelicidade maior seria descobrir que não existe vida para além da morte: “Tenho medo do que existirá após a morte. Será que somos eternos? Se sim, eu penso ‘como é que nos aguentaremos a nós próprios eternamente, com as nossas dúvidas, medos, conflitos e desejos a atravessarem o tempo eterno’?” Por outro lado, a própria morte, o vazio e o fim definitivo da sua existência são cenários que Inês não gosta de traçar, pela angústia que lhe transitem: “É difícil pensar nisso, mas acho que este é um medo inerente à raça humana, do qual apenas as crianças parecem escapar ilesas.”

 Para tentar ultrapassar este receio, a entrevistada tenta não pensar muito sobre o assunto, “até porque não há (ainda) respostas para isto... Vivo o dia-a-dia de uma forma activa e envolvo-me na minha própria vida, o que me permite afastar alguns destes pensamentos.” Reflectindo sobre o assunto, conclui que tudo deverá ser mais fácil para aqueles que acreditam em Deus ou que seguem uma religião: “A fé em Deus ajuda a superar e a aceitar o conceito da morte, transmite tranquilidade. A ideia de que existe um ‘Pai’ lá em cima à nossa espera, de braços abertos, é sempre reconfortante quando nos deparamos com estes conceitos, em alguma noite mais sinistra.” No seu caso particular, Inês Lopes revela ter sido criada na religião cristã, embora há muito tenha deixado se ser praticante e se afirme, hoje em dia, mais próxima dos ideais budistas. Ainda assim, evita colar uma etiqueta à sua fé: “A minha religião acaba por ser mais privada, num diálogo interno comigo própria.”

 

Medo de envelhecer sozinha

 Com uma perspectiva diferente da vida, as três entrevistadas seguintes lançaram-nos outras questões, também elas existencialistas. Para Marta Pereira, animadora de rádio com 31 anos de idade, a ideia de passar os últimos anos da vida sem companhia revela-se aterradora: “O meu medo não é em relação à imagem que, futuramente, poderei ver reflectida no espelho… É claro que me assusta imaginar-me com rugas, mas o meu maior receio é mesmo o de me vir a tornar dependente de outras pessoas.” Stressada 24 horas por dia, inclusive enquanto dorme, Marta Pereira é sinónimo de motivação no trabalho e boa disposição nas horas vagas. A possibilidade de perder toda esta energia constitui, por si só, um verdadeiro pesadelo: “Sempre fui muito independente e autónoma. É raro pedir ajuda a alguém para fazer seja o que for. Não gosto de incomodar ninguém nem de ficar dependente dos seus timings.”

Por morar sozinha, desde cedo que Marta se habituou a “tomar conta de si própria”, como faz questão de sublinhar. Tarefas como mudar um pneu do carro, utilizar o berbequim, limpar o pó em casa ou tratar de burocracias são sempre encaradas com independência e força de vontade: “Com o avançar da idade sei que isso vai deixar de acontecer e que as limitações físicas serão cada vez maiores. Não gosto nada de me imaginar a viver essas situações de dependência e de falta de força, sobretudo se estiver sozinha.”  Por outro lado, o contacto que vai mantendo com alguns idosos reforça o seu maior medo: “Fico desfeita com a solidão a que muitos deles estão sujeitos. Deve ser difícil chegar-se a velho e ser-se tratado como tal - a família nem sempre está presente e muitos deles ficam simplesmente a ver o tempo passar. Não quero isso para mim. Espero que a minha velhice não seja assim!”

 Uma esperança partilhada com outra entrevistada. Filipa Sardinha, 30 anos, tem receio de ficar solteira e de nunca vir a conhecer a pessoa certa. O sonho de encontrar um príncipe encantado, companheiro de aventuras nos melhores e piores momentos, tem vindo a tornar-se prioritário na vida desta coordenadora pedagógica. A razão pela qual afirma sentir medo é fácil de descrever: “Nunca pensei ficar sozinha… Sempre sonhei ter uma vidinha ‘normal’, com um marido, um emprego e um ou dois filhos.” Com todos estes sonhos na cabeça, a chegada aos 30 e a ausência destes elementos despoletaram uma verdadeira crise existencial: “Comecei a entrar em pânico! Talvez por ter tido uma educação um pouco conservadora nesse sentido, sempre procurei o grande amor da minha vida.”

Para Filipa esta é, no entanto, mais uma das suas muitas particularidades, considerando que poucas mulheres no século XXI ainda mantêm este tipo de sonhos: “Hoje em dia as raparigas não têm esta visão dos relacionamentos, nem sequer pensam que uma relação pode ou não ser para casar.” Para tentar ultrapassar o seu medo, Filipa Martins assume estar a mudar o comportamento. Depois de sonhar com um príncipe encantado, compreensivo, romântico e atencioso, começou a diminuir a lista de pré-requisitos.  Numa altura em que o pragmatismo parece estar a vencer-lhe o romantismo, a jovem pensa agora duas vezes antes de recusar um convite para sair. Com um tom de voz triste, acaba por admitir: “Há sempre um vazio na minha vida que está por preencher.” Sobre os relacionamentos que foi somando ao longo dos anos, lamenta apenas o elevado nível de expectativas: “Nunca terminei nenhuma relação séria por achar que não ia chegar ao altar. Mas já acabei um relacionamento de ocasião por achar que nunca daria nada sério. Canso-me facilmente daquele ‘chove-não–molha’!”. Desabafos de uma jovem mulher que sonha subir ao altar.

 

Medo de descobrir uma doença incurável

 Apesar da crise económica (e de valores) que as entrevistadas anteriores referiram, até prova em contrário, esta vida continua a ser a única que temos. Pensando nisso, duas mulheres de faixas etárias diferentes manifestaram um medo em comum: o de descobrir que têm uma doença incurável.

 Para Andreia Lopes, 29 anos, cada dia deve ser vivido como se fosse o último. Com uma situação financeira e profissional estáveis, a técnica comercial procura desfrutar dos prazeres da vida ao máximo: sempre que pode gosta de conhecer novos restaurantes, bares e centros culturais; adora ir ao teatro e ao cinema e, sobretudo, viajar. Conhecer os quatro cantos do mundo é um dos seus objectivos primordiais, pelo que, descobrir uma doença incurável e ser privada daquele que considera ser um dos seus maiores bens (a saúde) seria certamente destruir um dos seus maiores sonhos.

 Sem casos preocupantes na família directa, Andreia Lopes tem dificuldades em justificar a razão pela qual sente este medo. Ainda assim, adianta: “Não existe nenhuma razão aparente para sentir isto. As campanhas de sensibilização para esta ou para aquela doença têm cada vez mais destaque nos meios de comunicação social (e ainda bem que isso acontece!). Mas, inevitavelmente, uma pessoa sente receio que tais doenças nos possam vir a afectar.” Como mulher e cidadã informada, Andreia reconhece a necessidade de vigilância da sua saúde, pelo que contorna este medo com check-ups e idas regulares ao médico de família. De consciência tranquila relativamente a tudo o que pode fazer para evitar uma má notícia, tenta não passar a vida a pensar no assunto.

 Por sua vez, também Ana Soares, professora, com 40 anos de idade, assume que o seu maior medo é a possibilidade de ficar doente: “Não daquele tipo de doenças triviais, como uma gripe ou outras coisas simples de tratar e fruto da época, como se costuma dizer. Tenho medo daquelas doenças mais estranhas, que nos limitam por períodos largos, e que, por vezes, se revelam irreversíveis, contra as quais não podemos fazer nada. Tenho medo das doenças que causam sofrimento em nós próprios e nos outros, que se encontram à nossa volta.” A preocupação com o bem-estar de família e amigos revela-se assim paralela ao seu medo principal. Como Andreia, Ana Soares é também amante dos prazeres da vida, e não gostaria que nada a impedisse de os desfrutar da melhor forma: “Penso que não tenho propriamente medo da morte, uma vez que me é desconhecida, tal como as bruxas e os fantasmas. O meu medo maior está mesmo relacionado com situações que já conheci e que tive de ultrapassar.”

 

Carpe Diem

 Como Andreia e Ana Isabel, também Dália Andrade receia que a vida seja demasiado curta para tudo o que ainda pretende fazer. Ansiosa por natureza, faz parte de uma geração que vive a cem à hora, dividida entre a profissão que vai chegando para pagar as contas e um hobbie de criação de bijouteria que se vai transformado em arte, os jantares com os amigos e as viagens que lhe vão matando a sede de conhecer o mundo. Aos 31 anos, Dália é uma educadora de infância com muitos sonhos por realizar, mas preocupada com a falta de tempo para todos eles: “Ainda que a nossa esperança média de vida estivesse pelos 500 anos acho que o tempo continuaria a não ser suficiente para tudo”, desabafa em tom humorístico.

 Consciente que os seus planos para o futuro, na casa dos trinta, não serão os mesmos daqui a 10 ou 20 anos, lamenta que a condicionante física seja determinante, sobretudo no caso das mulheres: “Por exemplo, se decidisse ter um filho agora, tenho a certeza que alguns dos meus objectivos iriam ficar por concretizar, pois não são compatíveis com a maternidade. Por outro lado, esta tem um prazo durante o qual pode ser cumprido. Acho que, no fundo, não estamos preparados para abdicar de nada do que idealizámos.” Em jeito utópico, acaba por desejar: “Devíamos envelhecer mais lentamente, isso tornava as coisas bastante mais fáceis...”

 Desejos aparte, Dália Andrade está consciente de que o elixir da eterna juventude faz apenas parte do imaginário comum e das canções de Sérgio Godinho. Por essa razão, vai delineando estratégias que lhe permitem controlar a ansiedade de ser melhor: melhor educadora, melhor esposa, melhor amiga. O truque é a hiper-actividade: “Procuro fazer o máximo num mínimo de tempo possível. Claro que, por vezes, as coisas não funcionam assim, e os momentos de preguiça também me sabem bem. Mas procuro explorar cada novo interesse que surge da melhor forma possível.”

 Viver cada dia como se fosse o último, ou lutar para que o dia de amanhã seja melhor, poderão ser estratégias de superação de alguns destes medos. Pelo que apresentam em comum, facilmente se concluir que optimismo, força de vontade e elevadas doses de paciência são características fundamentais para viver 2011 da melhor forma possível. Com alguns receios, mas com muitos sonhos!

Ana Catarina Pereira

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