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Editorial

Magnética: a estranheza de um novo meio que se entranha

 

Uma entrevista exclusiva a um jornalista de 29 anos que sacrificou a segurança e a vida pessoal para denunciar o poderoso mundo da Camorra, em Itália, deu o mote a esta edição. Início do século XXI, centro da Europa e do mundo civilizado. Roberto Saviano, autor de Gomorra, vive na sombra desde a publicação de um livro onde revela números impressionantes: a Máfia de Nápoles mata 10 mil pessoas e movimenta 150 milhões de euros por ano. A denúncia não fica apenas no ar e Roberto Saviano identifica claramente os principais líderes da organização. Nenhum nome foi alterado. O resultado é uma vida no escuro, uma fuga constante e uma incógnita relativa à data de concretização efectiva das ameaças.

 

A comparação com Salman Rushdie é feita por alguns críticos. Também o escritor indiano foi condenado à morte, em 1988, pela publicação de “Versículos Satânicos” e suposta ofensa ao islamismo. A literatura foi o meio de comunicação privilegiado para transmitir uma mensagem que, em ambos os casos, se consideraram na obrigação de revelar. A “maldição” caiu sobre eles, como também caiu sobre Baudelaire, Rimbaud, Van Gogh, William Burroughs ou Lars von Trier.

Em Portugal, a lista de intelectuais nascidos “à frente do seu tempo” é interminável. A luta contra o regime ditatorial, uma mentalidade castradora, valores ultrapassados ou um público desinformado parece ser a “sina” de muitos portugueses. Pessoa, Amadeo de Sousa-Cardozo ou Saramago são apenas alguns exemplos, mas existem muitos mais. Intelectuais amados, odiados ou ignorados que este mês relembramos, sublinhado que o destino de muitos deles ainda pode ser evitado.

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