Universal Concreto
Ana Catarina Pereira
Saúde Ergonomia
Urgente: Cuide de si enquanto trabalha!
Dores nas costas, fadiga muscular ou cansaço visual são algumas das principais queixas de quem trabalha horas a fio no mesmo local. Tomar as devidas precauções pode melhorar o seu bem-estar e evitar lesões futuras. Denis Coelho, professor na Universidade da Beira Interior, director do mestrado em Design Industrial Tecnológico e editor da revista International Journal of Human Factors and Ergonomics, explica-lhe como potenciar a saúde e o bem-estar no local de trabalho.
Em termos ergonómicos, quais as falhas mais comuns nas empresas?
É preciso começar por perceber uma coisa: se um escritório está bem ajustado para uma pessoa de dimensões médias, nem sempre isso significa que esteja ajustado a pessoas de outras dimensões. Por isso mesmo, devemos introduzir o maior número de ajustamentos de modo a acomodar estas diferenças. Não é apenas a altura do assento que deve ser ajustada, mas também a altura da secretária, dos apoios dos braços, a proeminência e altura do apoio lombar no encosto do assento e a altura e distância ao monitor.
Que impacto podem ter estes erros na saúde das pessoas?
As doenças músculo-esqueléticas são a principal consequência dos erros cometidos no trabalho com computadores. Estas são designadas por Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) e podem traduzir-se por síndroma do canal cárpico (inflamação dos tendões do pulso), tendinites nos membros superiores (ombro, braço, mão, dedos) e ainda lesões nos discos intervertebrais. Por outro lado, uma iluminação desadequada pode levar ao cansaço do aparelho visual e à degradação da acuidade visual.
Nos escritórios, a maioria dos trabalhadores passa várias horas sentado.
Quais são os principais requisitos de um bom assento?
Uma cadeira de boa qualidade é essencial para o bem-estar do trabalhador. Esta deve ser almofadada e em tecido transpirável; ter apoios de braços ajustáveis, que se possam adaptar à altura do cotovelo da pessoa, e oferecer um bom apoio lombar, adequado à concavidade das costas. Em termos de dimensão, esta deve acomodar confortavelmente a largura das ancas e o comprimento das coxas, permitindo a flexão confortável das pernas nos joelhos. A altura do encosto do assento deve atingir, pelo menos, o nível dos ombros do utilizador. Todas as cadeiras de um escritório e, se possível, as secretárias devem ser ajustáveis em altura.
Em termos de postura, quais as principais regras que estes trabalhadores devem cumprir?
Em primeiro lugar, o assento e o espaço livre para as pernas devem permitir mudanças de postura. Devem utilizar-se cadeiras que permitam alguma oscilação da base, de modo a que a pessoa possa alternar entre uma postura em que as costas estão apoiadas no encosto, e outra em que estas se encontram desapoiadas mas erectas. Isto pode conseguir-se facilmente com a rotação de dez a 15 graus da base do assento, para a frente e para trás, em torno do eixo horizontal médio desta base, paralelo às ancas. Para além disso, o trabalhador deve ajustar o assento de modo a que os pés assentem confortavelmente no chão. Caso isso não aconteça, deve utilizar um apoio.
Por outro lado, o que aconselha a trabalhadores que passem várias horas do dia em pé?
A concepção dos locais de trabalho deve encorajar os trabalhadores à mudança frequente de postura, para evitar a fadiga muscular. Aos cabeleireiros e vendedores, por exemplo, deve ser permitido que alternem entre trabalho que é feito de pé e o que é feito sentado, adoptando assentos do tipo sela ou como os colocados junto a balcões de bar, que posicionam os seus membros superiores à mesma altura a que estariam caso se encontrassem em pé.
No sector industrial, onde o trabalho é repetitivo, quais são os principais erros?
São vários: as posturas fixas e restritivas, o transporte manual de cargas pesadas ou grandes, o trabalho efectuado acima do nível dos ombros e abaixo do nível da cintura. O ruído e as vibrações, as condições de iluminação inadequadas, o trabalho repetitivo e monótono, a exigência de uma grande acuidade visual, bem como o isolamento do trabalhador, o ritmo de trabalho imposto e as pausas condicionadas ou limitadas também podem ser bastante problemáticos…
Existem exercícios ou truques que possam ser feitos no local de trabalho?
Os alongamentos dos membros superiores e inferiores, das costas, dos ombros e do pescoço e a ginástica laboral podem ser introduzidos no início, no meio e no final da jornada de trabalho. Isto já acontece nalguns escritórios e fábricas de alguns países asiáticos. O resto do mundo tem que aprender com estas práticas benéficas que, para além de prevenirem problemas músculo-esqueléticos, também contribuem para um maior bem-estar físico em geral e para uma maior motivação no trabalho.
A que sinais de alarme devemos estar atentos?
O primeiro sinal de aviso é o desconforto e a fadiga muscular. Quando o desconforto persiste, torna-se em dor, num espaço de tempo que pode variar entre os 30 minutos e algumas horas. Se a dor persistir, e se não forem tomadas medidas, é provável que ocorra uma lesão. Em muitos casos, a correcção posterior envolve cirurgia e muita fisioterapia, bem como o afastamento do trabalho. Nalguns casos, as lesões deste foro são irreversíveis.
E a que especialista devemos recorrer nestes casos?
Em caso de dor aguda, tanto o médico de família como o médico do trabalho devem ser consultados. Em seguida, o trabalhador deverá ser encaminhado para um especialista, normalmente em ortopedia ou traumatologia. As queixas de foro visual devem ser encaminhadas para um oftalmologista.
À secretária - 8 passos para tornar o seu computador user friendly
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Coloque o computador directamente à sua frente, para evitar a torção do pescoço. No caso de ter um computador portátil deverá elevar o aparelho com uma base de apoio.
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Na posição sentada, o teclado e o rato devem estar à altura do cotovelo. A parte superior da tela do monitor deverá estar à altura dos olhos.
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O rato deve ser movido sobre um tapete acolchoado com gel sob os pulsos.
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Quando deslocar a mão entre o teclado e o rato, movimente todo o braço: a mão deve encontrar-se no alinhamento do antebraço. Este deve encontrar-se sempre na horizontal e estar flectido no cotovelo, mantendo os ombros relaxados.
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Mantenha a distância certa em relação ao monitor: cerca de uma vez e meia a medida da diagonal do monitor.
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Tenha atenção ao encandeamento e aos reflexos de luz no monitor: este deve colocar-se perpendicularmente às janelas e fontes de luz artificial.
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Por cada hora de trabalho frente a um computador faça uma pausa de cinco minutos: deambule pelo escritório ou vá beber um copo de água.
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Nas horas em que se mantiver sentada deve ir alongando braços, mãos e costas.
Rapidez e eficiência - Soluções simples para melhorar as condições no escritório
- Coloque almofadas nas costas da cadeira para conseguir um apoio lombar adequado.
- Caso tenha uma estatura baixa e não chegue com os pés ao chão, utilize listas telefónicas ou catálogos volumosos como base de apoio.
- Utilize os mesmos catálogos para elevar o monitor do computador à altura dos olhos.
- Coloque telas nas janelas contíguas ao espaço de trabalho para regular a intensidade luminosa e a incidência directa de raios solares.
- Substitua regularmente o mobiliário defeituoso ou inadequado.
- Frequente acções de formação e sensibilização dos trabalhadores nesta área e convença os seus colegas ou colaboradores a acompanharem-na.
Sabia que A temperatura ambiente deve adaptar-se ao nível físico da tarefa. «Se é intenso, a temperatura de conforto poderá descer até aos 15 graus. Para um trabalho com pouca actividade física, o valor recomendado situa-se entre os 18 e os 21 graus no Inverno e os 21 e os 24 no Verão», explica o especialista
DICA Sempre que possível, deve privilegiar-se a iluminação natural durante as horas do dia, e utilizar a iluminação artificial em complemento
O que significa? Ergonomia é a disciplina científica cujo objectivo é estudar as características laborais, de forma a adequar o local de trabalho e o equipamento ao trabalhador, gerando mais conforto, segurança, eficiência e produtividade. In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora.
Por Ana Catarina Pereira
Com Denis Coelho, especialista em Ergonomia